sábado, 30 de julho de 2011

Etiqueta no Islam

Neste "post" quero relatar sobre a gastronomia e codigos de mesa muculmanos.Nem todos muculmanos de berco ou nao cumprem com todos os rituais e nem todos o fazem com rigor. Mas isso e' mencionado no Al-quran e o que nao e' feito e' considerado pecado.
Esses cumprimentos sao mencionados em hadiths e e' altamente considerado pelas pessoas.Quanto ao taqalid (costumes e tradicoes) nao e' obrigatorio mas proporciona ao individuo muita consideracao cultural.

Os codigos se dividem em 3 tipos:
antes, durante e depois das refeicoes.

Antes da refeicao:

  • Preparar para comer produtos legais ou seja nada de porco, produtos com sangue, carne de animais mortos, bebida alucinogena, nem produtos roubados.Exceto por necessidade  de sobrevivencia, tudo isso e' altamente taxativo.

  • Lavar as maos

  • A comida por respeito a Allah swa deve ficar levemente acima do solo. Em cima de uma toalha, pano, manta ou lencol, etc

  • Nao se utiliza utensilios de ouro ou prata

  • Sentar-se decentemente. Sentar-se no chao sobre os joelhos ou erguer a perna direita e sentar-se com a esquerda. Com esta posicao o estomago fica levemente pressionado e logo ele tem a sensacao de que ele esta' cheio, deixando-se assim de  comer. O profeta sempre recomendou compostura aos seus seguidores na hora de consumir alimentos. Ele disse: "abarrotar qualquer  saco e' um equivoco, e tratando-se do estomago seria o pior equivoco" assim continua o profeta: " O crente deve destinar, na hora de comer, um terco de seu espaco para seu estomago a comida solida, um segundo terco a bebida e o ultimo a alma. Quem seguir tal recomendacao nunca necessitara' de um medico". Pelo jeito ninguem a segue....

  • Conformar-se com os alimentos que possui

  • Os bons crentes jamais comem sozinhos. O profeta disse: "A mesa mais abencoada e' a que se inunda com muitas maos".
Durante a refeicao:

  • Bismillah arrahman arrahim (Em nome de Deus, o Misericordioso, o Compassivo). O nome de Deus e' sempre mencionado antes das refeicoes e em todo o momento que voce comeca algo. Todos os arabes tem a mesma pratica. Isso faz com que o prazer da comida nao faz esquecer de Deus.

  • Nao ha por que comecar a comer antes que aquele que tem mais anos de vida entre os presentes.

  • Comer com a mao direita

  • Comecar a degustacao com tamaras ou um pouco de sal. Disse Ali o quarto califa: "Quem seguir este conselho se precavem de setenta enfermidades diferentes e elimina todos os vermes do interior de seu estomago". Nos paises do Magreb e na peninsula Arabica, e' uma pratica habitual comecar a refeicao com uma tamara, no Oriente Medio, porem esse habito nao e' apreciado.

  • Os bocados devem ser de tamanho pequeno e bem mastigados, para facilitar a digestao. Nao se pode comecar com o bocado seguinte antes de haver engolido o anterior, ja' que a impaciencia e' um habito de Santanas. Pelo mesmo motivo,  nao se estima soprar no prato quente para esfria-lo. Deve-se ter pacienca e esperar. 

  • Se os pratos sao coletivos (nao individuais), deve-se comer pelo lado do prato que corresponda a pessoa. 

  • Nao se deve vigiar nem dedicar especial atencao ao comportamento dos demais, para nao inibi-los.

  • Se qualquer alimento cair no chao, deve-se recolhe-lo, lima-lo e  come-lo. Se for dificil limpar, deve-se dar a um animal em vez de disperdica-lo, se nao Santanas o levara'. Especial atencao oa pao. Jamais veremos um arabe, cristao ou muculmano, desperdicando ou jogando fora sequer uma casca de pao. Mesmo no caso de alguem tropecar com um pedaco de pao no chao, imediatamente o recolhe para que ninguem pise, beija-o e o leva ate' a sua testa  em sinal de respeito. Se tiver em boas condicoes, come-o ou o da' a um animal; caso ao contrario, o esconde num buraco longe do alcance de Satanas.

  • Mastigar ou egolir em silencioe nao emitir sons incomodos. Deve-se conversar durante a refeicao, mas sempre sobre os temas agradaveis.

  • Nao arrotar nunca. Caso contrario, pedir desculpas, assif, afuan. Aceitam-se tambem as desculpas em ingles: sorry.


Codigos apos a refeicao:


  • Em primeiro lugar, em relacao ao ultimo ponto, gostaria de comentar a crenca difundida gracas aos filmes de cinema mal intencionados e pouco documentados, de que os arabes devem arrotar apos a alimentacao. Nesta vida ouvi muitas imbecilidades, mas nenhuma como esta. Se alguem involuntariamente arrota e nao pede desculpas, corre o risco de que lhe repliquem com um satteh (Que voce exploda, ou mesmo Que o parta um raio).

  • Dar gracas a Deus pela doacao generosa de tais alimentos.

  • Algumas pessoas antes de lavar as maos, chupam os 3 dedos (polegar, indicador e dedo medio) que utilizaram para  comer, imitando Mohamad e seus correligionarios. O profeta justificava tal atitude: "Ninguem sabe onde Deus coloca o melhor ou o mais benefico da comida, no primeiro bucado ou no suco que que impregna os dedos"

  • Nao existe nada melhor, para terminar a refeicao, que um copo de agua fresca.

  • Depois do almoco e' aconselhavel uma sesta de curta duracao. Ao acordar, come-se uma sobremesa e, finalmente, toma-se cafe ou cha. Depois de jantar, porem, e' aconselhavel passear, embora sejam cem passos. E' muito conhecido o proverbio arabe que diz: Taghada ua tamada, taacha ua tamacha (Almoce e depois durma; jante e depois passeie).  

Dicas de como jejuar no Ramadan

Bem alguns nunca devem ter jejuado ou mesmo se jejuam, aqui vai umas dicas de quem e' mais experiente ou que esta' no Islam ha' mais tempo.

1. Procure jejuar nos meses anteriores ao mes de Ramadan, de preferencia nas segundas e quintas. Aisha narra que o profeta (swa) costumava jejuar nesses dias. Assim voce vai acostumando seu organismo gradulamente ao jejum.

2. Quando fizer seu Iftar procure deixar sua comida ja' pronta ou pelo menos encaminhada.

3. Faca primeiro uma refeicao leve como por exemplo uma sopa. Voce pode comecar com um copo de agua e umas tamaras (como o mensageiro de Allah (swa)) fazia ou se nao tiver tamaras pode comer algo doce. Com isso seu organismo aceita melhor suas refeicoes e nao ha' perigo de desandar seu estomago.

4. Procure nao exagerar na comida, nao fique estufado. Faca uma refeicao leve (salada, sopas) e depois uma refeicao principal como carne, massas, feijao, arroz, etc....Assim voce vai se sustentar mais tempo para o dia todo seguinte.

5. Apos a refeicao principal procure comer doces e frutas leves ate' o horario de dormir isso vai deixar vc sadio e limpar seu estomago e nao pesa na hora de dormir.

6. Faca sempre que puder uma refeicao antes da oracao da Alvorada. Isso ajuda voce a nao ter tanta fome durante o dia, principalmente se voce faz trabalho pesado e tem um dia estafante.

Com essas pequenas dicas, voce  consegue jejuar o mes todo sem problemas. Espero ter ajudado.  

terça-feira, 26 de julho de 2011

O preparo para o mes do Ramadan

Com a chegada do mes sagrado, mais uma vez somos abencoados com essa dadiva. Entao devemos nos preparar para tal. Aqui divulgo um sermao do sheikh Khaled Rezk Taky Eldin da Masjid de Guarulhos que costumo sempre ler dias antes. E' um artigo sucinto mas que explica muitos pontos interessantes e importantes que nao podemos esquecer nes mes. Alguns ja devem saber mas e bom sempre recorda-los. Boa leitura!

Em nome de Allah, o Clemente, o Misericordioso.

O Preparo Para o Mês de Ramadan

Louvado seja Allah. Ele agraciou Seus servos com períodos para a obediência, tornando o abençoado mês de Ramadan um período para a luz, da misericórdia. Pedimos graça e paz de Allah para o melhor das criaturas e o escolhido entre Seus Mensageiros. Ele era mais generoso durante o mês de Ramadan a tal ponto que era mais benéfico do que os ventos fertilizantes.
Irmãos muçulmanos: O mês de Ramadan está às portas. Esse nobre hóspede, o amado pelas almas dos crentes, o próximo dos corações dos adoradores, é aguardado pelo crente com saudade para poder cumprir as orações noturnas, recitar o Alcorão, jejuar durante o dia, lotando-o com recordação de Allah e, praticando caridade e atos de bem. Al Ma’la Ibn alFadhl disse: “Os nossos antepassados costumavam suplicar a Allah durante seis meses para que chegue o mês de Ramadan.” Yahia Ibn Abi Kacir disse: “Entre suas súplicas estava: "Ó Allah, entrega-me ao Ramadan e entrega o Ramadan a mim.. Aceita-o de mim.” O Ramadan chegava, estando eles à espera dele.
Ibn Rajab Al Hanbali (Rahamahullah) disse: “Os nossos antepassados (rahamahumullah) suplicavam a Allah durante seis meses para que alcancem o mês de Ramadan e suplicavam durante seis meses para que Allh o aceite deles.” O que devemos fazer como preparação para o mês de Ramadan?
Primeiro: O anúncio da chegada do mês. O Rassulullah (S) costumava anunciar à sua comunidade a chegada do mês. Abu Huraira (R) relatou que o Rassulullah (S) disse: “Chegou-vos o mês de Ramadan, um mês abençoado. Foi-vos instituído jejuar durante ele. Nele as portas do céu se abrirão e as portas do Inferno são encerradas e os demônios são acorrentados. Durante ele há uma noite equivalente a mil meses. Quem for privado de seus bens, será privado de todos os bens.”
Segundo: A intenção e a determinação para a mudança e o arrependimento.
O mês de Ramadan é uma excelente oportunidade para o arrependimento e o retorno a Allah. Assim, o servo não comete pecado; não prejudica a si mesmo, a seus filhos, a seus familiares, e à sua comunidade. Allah nos concedeu a oportunidade de mudarmos e retornarmos a Ele. Ele disse: “Dize: Ó servos meus, que se excederam contra si próprios, não desespereis da misericórdia de Allah; certamente, Ele perdoa todos os pecados, porque Ele é o Indulgente, o Misericordiosíssimo.” (39:53). É dever do muçulmano apressar-se para agradar a Allah. Ele disse: “Apressei-me até Ti, ó Senhor, para Te comprazer.” (20:84).
Os dias de Ramadan passam rapidamente. É nosso dever os aproveitarmos antes de perda de tempo. Que cada um de nós saiba que a vida terminará e que estamos prestas de nos apresentar perante Allah e prestarmos contas dos nossos atos. Que nos preparemos todos.
1. Abu Dardá  (R) subiu, um dia, os degraus da mesquita de damasco. Ele disse: “Ó povo de Damasco. Querem ouvir o conselho de seu irmão? As pessoas antes de vocês costumavam juntar muitos bens, construíam bastante, e tinham muita esperança. O que eles juntaram tornou-se improdutivo, as suas construções tornaram-se taperas, e sua esperança ilusão.” Ele costumava dizer: “Três coisas me fizem rir até me fazerem chorar: aquele que procura o mundo quando a morte está à procura dele; o que ri com toda a força sem saber se está agradando ou não ao seu Senhor; e o negligente que não é negligenciado.”
O pensarmos em nossos pecados e na Outra Vida nos invoca a nos apressarmos para o arrependimento e o aproveitamento da oportunidade da chegada do mês de Ramadan, para abrirmos uma nova página com Allah, renovando o nosso arrependimento e prometendo permanecer no caminho da crença e de acordo com o modelo do Profeta Mohammad (S).
2. Al Fadhil Ibn ‘Aiádh perguntou a um homem: “Quantos anos você tem?” Respondeu: “Sessenta anos.” Disse-lhe: “Você está caminhando para o seu Senhor há sessenta anos e não conseguiu chegar ainda?”  O homem disse: “Somos de Allah e a Ele retornaremos.” O Fadhil lhe disse: “Você sabe qual é o significado disso? Quem diz: somos de Allah ... e a Ele retornaremos quem sabe que é servo de Allah, e que a Ele retornará, e sabe que se apresentará perante Ele. Quem se apresentar será questionado. Quem souber que será questionado deve preparar resposta para a pergunta." O homem perguntou: "Qual é a solução?" Respondeu: "Comportamento que melhore o que sobrou para que seja perdoado o que passou. Se você piorar o que restou arcará com o que passou e o que passou."
3. À espera da excelente recompensa:
Ramadan é a grande oportunidade para se auferir as benêsses. O jejum é um escudo, de acordo com o que o Nassá'i relatou que o Rassulullah (S) disse: "Quem jejuar um dia pela causa de Allah, será distanciado do Inferno o equivalente a uma viagem de cem anos."
O Tirmizi relatou que o Rassulullah (S) disse: "Quem jejuar um dia pela causa de Allah, Ele colocará entre a pessoa e o Inferno uma trincheira cuja largura do tamanho da distância entre os céus e a terra."
As recompensas pelas boas ações durante o mês de Ramadan se multiplicam, o que incentiva o muçulmano a sentir saudade e se preparar para a chegada do nobre hóspede.
Abu Said relatou que o Rassulullah (S) disse: "Todo servo que jejuar um dia pela causa de Allah, Allah o afastará do Inferno setenta anos."
O Profeta (S) nos informou: "Quem jejuar durante o mês de Ramadan com fé e esperança, ser-lhe-ão perdoados os seus pecados anteriores."
Musslim nos relata, também: "Quem praticar as orações noturnas durante o mês de Ramadan, com fé e esperança, ser-lhe-ão perdoados os seus pecados anteriores."
Portanto, irmão muçulmano, esta é uma excelente oportunidade para efetuarmos a nossa transação com Allah, auferindo o Paraíso e nos livrando do Inferno. É uma oportunidade para nós muçulmanos no Brasil mudarmos o rumo de nossas vidas, educndo os nossos filhos na obediência às leis de Allah e de acordo com o método do Rassulullah (S). Façam as pazes com Allah, sejam assíduos na prática da oração. Paguem o seu zakat. Estreitem os laços de parentesco. Alimentem as pessoas, orem à noite, enquanto as pessoas estão dormindo, que entrarão no Paraíso de seu Senhor em paz."
Que Allah nos faça chegar até Ramdan e nos dê forças para jejuarmos os seus dias e orarmos durane suas noites. Amém.
Que Allah nos abençoe a todos.


sexta-feira, 8 de julho de 2011

As mulheres estudiosas no Islam

Assalam Waleicum wa Rahmatulari wa Barakatu


Hoje quero comentar sobre mulheres que no comeco da expansao do Islam, contribuiram para o crescimento do conhecimento, divulgacao do Islam e ate mesmo em varias invencoes.

Tempos atras estive em uma exposicao em Londres sobre muculmanos na epoca de ouro  . Quando Bagda era a cidade central e ponto de comercio entre muitas outras cidades, onde havia as primeiras universidades, hospitais e estudo da medicina, ciencias, filosofia, etc.

Naquela epoca, havia uma efervecencia de troca de informacoes e estimulo de traducoes de livros de todos os lugares em varias linguas, o que era insentivado por sultoes que pagavam em ouro o peso do livro traduzido. Havia bibliotecas inteiras com livros de filosofos gregos, medicina, ciencias, matematica e outros. Podemos citar tambem a biblioteca de Alexandria que infelizmente foi atingida por um incendo tempos depois, mas que atualmente foi contruido uma nova biblioteca com uma arquitetura moderna.

Nesta epoca, havia tradutoras mulheres tambem, assim como estudiosas da religiao e mulheres intelectuais e cientistas. Nesse meio podemos citar a inventora do astrolabio. Instrumento de navegacao que utilizava as estrelas e os astros, auxiliando a astronomia. Seu nome era Merriam al-Ijtiya tambem conhecida como Al-Astrulabiya( seculo 10) nascida em Allepo nordeste da Siria, onde viveu entre 944 ate' 967. Ela trabalhava para Sayf al-Dawla. Hoje em dia muitos homens trabalham no campo da engenharia e ciencia, mas na sua epoca era um dos casos raros nesses campos.


Outra grande mulher que podemos citar e' Fatima Al-fihri tambem conhecida como Al-Fihriya. Nascida em uma prestigiosa familia em Fez no Marrocos, era jovem, bem educada e rica, mas determinada em melhorar a sua comunidade. Ela herdou uma fortuna do pai que era um homem de negocios e  decidiu contruir com um complexo de escola e mesquita chamado Al-Qarawiyin in 841.   

Em 859, esse complexo era considerado muito desenvolvido na cademia para ensino da religiao, discusao politica e ciencias naturais. Onde os estudantes podiam conversar sobre os mais variados assuntos academicos.

Atualmente este completo Al-Qarawiyin e' considerado a universidade mais antiga  do mundo, onde se continua a ser ministrado cursos para universitarios. 

Em termos de religiao nao podemos esquecer de Aisha, que por ter uma memoria protigiosa nos passou muitos dos hadiths do profeta. 

Enfim, ha' varios casos de mulheres que contribuiram para o bem estar, a  religiao, as ciencias e cultura. Essas sao alguns exemplos que posso repassar para voces. Incluo aqui um artigo que foi divulgado no Times, em 2007 que cita mais alguns exemplos. 

So' quero fazer uma ressalva no artigo onde ela chama o nosso profeta erroneamente de "Maome'", no qual seria correto chama-lo de Mohamad, por nao ser traduzidos os nomes proprios.





NY Times
Domingo, 25 de fevereiro de 2007

Especialista desvenda a vida das mulheres no Islã
Para os muçulmanos e os não muçulmanos igualmente, a imagem característica de um estudioso do islamismo é a de um homem grisalho e barbado. As mulheres tendem a ser vistas como súditas da lei islâmica, e não como formuladoras.
E embora existam certas oportunidades de educação religiosa para mulheres - a prestigiosa Universidade al-Azhar, do Cairo, tem uma faculdade feminina, por exemplo, e existam madrassas e grupos de estudo dirigidos às meninas em mesquitas e em residências de estudiosos, as barreiras culturais impedem que a maioria das mulheres no mundo islâmico se dedique a esse tipo de estudo.
Recentes descobertas de um estudioso do Centro de Estudos Islâmicos da Universidade de Oxford, no Reino Unido, porém, podem ajudar a reduzir essas barreiras e a contestar as noções prevalecentes sobre o papel da mulher na sociedade islâmica. Mohammad Akram Nadwi, 43, um "alim", ou estudioso da religião, sunita, redescobriu uma tradição perdida de mulheres muçulmanas que ensinavam o Corão e transmitiam a "hadith" (os ditos e feitos do profeta Maomé). Elas até participavam do desenvolvimento das leis islâmicas, como juristas.
Akram iniciou oito anos atrás a compilação de um dicionário de estudiosas da hadith, obra planejada para um volume. O projeto o levou a vasculhar dicionários biográficos, textos clássicos, crônicas das madrassas e cartas, em busca de citações relevantes. "Achei que encontraria 20 ou 30 mulheres", diz. Até o momento, no entanto, ele já localizou referências a mais de oito mil delas, remontando a 14 séculos atrás, e seu dicionário já cresceu até atingir os 40 volumes.
O trabalho é tão longo que a editora com a qual ele costuma trabalhar, em Damasco e Beirute, recusou o projeto, ainda que uma tradução do seu prefácio para o inglês - de quase 40 páginas - deva ser publicada na Inglaterra no terceiro trimestre. (Akram conversou com o príncipe Turki al-Faisal, antigo embaixador saudita aos Estados Unidos, sobre a publicidade de publicar o trabalho na íntegra por meio da fundação que o príncipe mantém em Riad.)
Os diversificados verbetes do dicionário incluem uma jurista nascida em Bagdá no século 10 que viajava pela Síria e Egito ensinando outras mulheres; uma acadêmica - ou "muhaddithat" - egípcia do século 12 cujos alunos homens se admiravam diante de seu conhecimento - de mais textos do que um camelo poderia carregar - e uma mulher do século 15 que lecionava a haddith na tumba do profeta em Medina, um dos locais mais importantes do mundo islâmico.
Uma mulher do século 7, em Medina, que chegou ao posto de jurista, promulgou fatwas (decretos) importantes sobre os rituais de peregrinação muçulmanos e sobre o comércio, e outra jurista, que vivia em Aleppo na Idade Média, não só promulgou fatwas mas também aconselhava seu marido, um jurista muito mais conhecido, quanto à redação de seus éditos.
Nem todas essas estudiosas eram desconhecidas no passado. Muitos muçulmanos reconhecem que existem mulheres eruditas no Islã, especialmente no campo da hadith, começando por Aisha, a mulher do profeta. E diversos acadêmicos ocidentais escreveram sobre a educação religiosa das mulheres muçulmanas. Cerca de um século atrás, o orientalista húngaro Ignaz Goldziher estimou que cerca de 15% dos estudiosos medievais da hadith eram mulheres. Mas o dicionário de Akram representa um marco histórico, devido ao seu imenso escopo.
De fato, lido hoje, em uma era na qual muitas mulheres muçulmanas não ousam orar nas mesquitas, quanto mais pregar ou lecionar nelas, o verbete de Akram para uma mulher como Umm al-Darda, proeminente jurista do século 7, em Damasco, chega a ser espantoso. Quando jovem, al-Darda costumava ficar na mesquita com os colegas homens, discutindo assuntos profissionais. "Tentei cultuar Alá de todas as maneiras", ela escreveu - mas a melhor que descobri foi debatê-lo com outros estudiosos".
Ela se tornou professora da hadith e também lecionava "figh", ou leis, na mesquita, e chegou até a palestrar na seção masculina do templo. Entre seus alunos, estava o califa de Damasco. Al-Darda chocou os contemporâneos ao orar lado a lado com os homens - prática quase desconhecida, mesmo hoje - e escreveu uma fatwa, ainda lembrada pelos modernos estudiosos, que permitia que mulheres orassem na mesma posição que os homens.
É depois do século 16 que as referências a mulheres estudiosas do islamismo começam a escassear. Alguns historiadores arriscam a hipótese de que isso se deva ao avanço do formalismo na religião muçulmana, o que resultou na exclusão das mulheres porque a estrutura da religião se profissionalizou, gerando carreiras nos tribunais e nas mesquitas. (Akram concluiu que, estranhamente, essa forma de exclusão também ajudou as mulheres a se tornarem estudiosas melhores.
Porque não detinham postos oficiais, elas tinham pouca razão para inventar ou tentar enfeitar tradições estabelecidas pelo profeta.) O trabalho de Akram atraiu acusações de que ele está defendendo o livre contato entre homens e mulheres, mas o pesquisador afirma que não é essa a sua intenção. Ele diz que as mulheres deveriam se sentar a uma distância discreta dos seus colegas de estudo ou correligionários homens, ou serem protegidas por uma cortina. (É uma prática que encontra paralelos no judaísmo ortodoxo.)
Akram diz que as mulheres muçulmanas que lecionavam para homens são "parte de nossa história. Isso não significa que o exemplo delas deva ser seguido. Cabe às pessoas decidir". Mesmo assim, ele espera que revelar a existência dessas passadas estudiosas possa servir para reformar a cultura islâmica atual. Muitos muçulmanos consideram os precedentes históricos, especialmente os que remontam à era dourada de Maomé, como exemplos para as sociedades modernas.
* Carla Power é jornalista, vive em Londres e escreve sobre assuntos islâmicos.
Tradução: Paulo Eduardo Migliacci ME